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Nó Tático

A calada voz das arquibancadas

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Ao final do jogo Ceilândia 1-2 Anápolis no último sábado (4/6), no Abadião, eu e Allan Barbosa discutimos no pós-jogo da Esportes Brasília sobre a questão do estádio como espaço para comparecer, no mínimo, como forma de lazer.

Os clubes de vários esportes ao redor do mundo passam a valorizar, hoje, a questão macro de quem vai ao estádio, como outros incentivos para um torcedor ir ao estádio além de ver o próprio time jogar. Brindes, interatividade, música, luzes: tudo de sensacionalista já faz parte dos espetáculos além do que o esporte naturalmente proporciona.

Claro que essa visão de grande evento não se aplica a um jogo da oitava rodada da Série D do Campeonato Brasileiro. Mas, arredondando os números, metade da torcida presente no Abadião, no último sábado, era do Anápolis, que vive ótima fase, com seis vitórias seguidas, enquanto o Ceilândia atravessa sua pior forma na temporada. Entende-se, nesse momento, o porque de não levar sequer 100 torcedores ao próprio estádio em um jogo-chave do campeonato.

O público total deste jogo foi de 179 pessoas. Quase dez vezes menos o que o Atlético Mineiro levou de visitantes ao Allianz Parque no jogo deste domingo (5/6), pela Série A. A transmissão oficial, no entanto, mostrou que a torcida do Galo gritou, em alguns momentos, mais que os mais de 38 mil palmeirenses presentes em Palestra Itália. Valeriam as aspas para o grande número. Explicarei logo.

Um dos jogos mais aguardados da temporada teve mais de 40 mil torcedores no horário nobre do futebol na rodada do fim de semana. Para o clube paulista, significou o recorde de público na presente temporada. Detalhe: o Palmeiras jogou melhor do que o Atlético, apesar do zero a zero.

Então, porque a torcida atleticana gritou mais durante o jogo? A tal polêmica começou na semana do jogo, com críticas da principal torcida organizada palmeirense, a Mancha Verde, sobre os preços dos ingressos e à gestão da presidente Leila Pereira, que havia prometido manter uma constância no preço dos bilhetes.

No campo, Palmeiras e Atlético (já há algum tempo) demonstram um show em campo. Na arquibancada, o Galo levou os três pontos, mais graças à elitizada parcela de palmeirenses que pagaram, com seu dinheiro, para ver a um jogo de futebol qualquer do que qualquer outra coisa. Tal parcela desmotivou até à própria Mancha Verde, a mesma que fizera espetáculo em janeiro no Uruguai e em fevereiro, em Abu Dhabi.

Em maio, teve fim uma das torcidas mais fortes do basquete brasileiro, a Loucos da Central, do Bauru Basket. A diretoria bauruense decidira, em golpe fatal, receber a torcida do São Paulo em um jogo de playoffs no local que pertencia à barra. Tal “humilhante” decisão, como descrevera a carta de despedida da torcida, é imagem do que podem vir a ser as torcidas organizadas, uniformizadas, populares. Enfim, torcidas: espécie em extinção, caçadas pelos diretores dos próprios clubes que alentam.

Já não é segredo a elitização dos esportes com as modernas arenas e experiências que abrilhantam os olhos de quem acompanha nas diversas mídias. Apenas sofre quem não consegue chegar a ver, por ser considerado menos do que verdadeiramente é: a sua própria camisa.

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Olá, curtiu a crônica? Esta é a estreia do Nó Tático, a nova coluna semanal da Esportes Brasília, que estreia hoje. Eu sou Paulo Martins e é um prazer estar aqui com você. Pensar futebol não é pensar um estilo de vida, mas pensar aquilo que muitas das vezes é a nossa vida.

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