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Nó Tático

Humildemente, campeão

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Da simplicidade de uma vida difícil de um subúrbio crescente na ainda jovem capital do Brasil, o Ceilândia apareceu em um ainda fantasmagórico futebol candango. Naquele tempo, hoje e não sabemos ainda por quanto tempo mais, a preferência brasiliense é de torcer por clubes de fora do nosso eixo, do nosso Plano.

A humilde e trabalhadora região da Guariroba (que não chamamos de bairro por não termos este costume no Distrito Federal) segue lá. Com seus comércios locais, com a ponta da linha verde do precário metrô de Brasília, com as casas dos milhares de pais, mães, filhos, operadores de serviços gerais, estudantes, especialistas. É possível que de tudo se veja ali.

Se alguém parar na movimentadíssima Estação Ceilândia Centro e fizer uma pesquisa sobre o time que a galera de uma das regiões mais pioneiras da capital republicana, se verá variações. “Flamengo”, “Corinthians”, “Vasco”, “São Paulo”. Dali, a menos de um quilômetro, se encontra a joia futebolística da cidade: o Abadião.

Entretanto, gente da Grã-Ceilândia toda vai ali ver o clube da cidade jogar. Até gente de fora, como eu, que já fui a pé desde a estação. Alguns deles, parte dos “poucos e fieis torcedores” que tem o time, como bem citou o presidente Ari de Almeida. Outro homem cirúrgico em algumas searas.

Também dali, a coisa de 1,5 km se vê a sede de uma organizada flamenguista. O pluralismo da Ceilândia permite. Mas a unidade local que batalha dia após dia, ao ritmo da RA mais popular do Quadradinho, não se deixa abater. Mesmo sem ser a maior do DF, tira seu papel picado, vai de faixa presente onde precisar. Estilo de barra, de organizada, futebol em pura essência.

Quantos não tiveram a alma despedaçada ao ver o pênalti do Luiz Felipe pegar no travessão e na linha contra o Caxias, na Série D? Foi mais um dia de carga quase máxima no Maria de Lourdes Abadia. Os mesmos esperavam, com toda a fé de quem trabalha, pelo melhor. Não foi daquela vez.

A mesma simplicidade de sempre levou a um favoritismo inesperado em um Candangão posterior, este cheio de dinheiro e glamour desnecessário para cá e para lá. Sem falar de narizes elevados. Daquele jogo de oitavas no nacional ao apitar do 0 x 0 no Mané Garrincha passaram-se sete meses, 17 dias, 23 horas e 30 minutos. Tal e qual. “De novo os pênaltis”, podia pensar algum torcedor alvinegro.

Estava na hora da sua decisão. Suor e honestidade não são jogados fora como se não valessem plenamente nada. Como diz meu avô, Seu Rivaldo, que morou na mesma Ceilândia que viu meu pai nascer: “A sorte acompanha os competentes”. O trabalho venceu. Parabéns ao Ceilândia, campeão da capital em 2024.

Narrador Esportes Brasília desde 2022; Currículo com duas Supercopas do Brasil e uma Copa do Mundo, além de extensa cobertura do futebol, futsal e basquete da capital federal; Colunista EB no Nó Tático, às segundas-feiras.

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