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Kartódromo Ayrton Senna é desativado e pilotos pedem providências
Escrito 4 anos atrás em
Por Gabriel Spies
Foto: Alex Farias/PhotoGP
Colaborou: Rener Lopes
Na última sexta-feira, 15, o Kartódromo Ayrton Senna, localizado no CAVE, no Guará, foi lacrado pela Administração Regional da cidade-satélite. O argumento foi o vencimento da concessão do espaço à empresa “Guará Motor Clube (GMC)”, que tinha essa autorização há mais de 20 anos. Ocorre que essa concessão venceu no fim de 2019 e, só agora, em meio à pandemia do novo coronavírus, o kartódromo foi interditado. Todos os funcionários que trabalhavam no local receberam ordem de despejo.
O presidente da Federação de Automobilismo do Distrito Federal (FADF), Luiz Caland, explicou para a equipe da Esportes Brasília os motivos da interdição do kartódromo na última sexta-feira. “Por uma demanda da Controladoria do GDF, segundo a Administração do Guará, onde solicitou a desocupação de todo kartódromo com o intuito de legalizar a ocupação por se tratar de área pública”.
Durante a entrevista, Caland também lamentou a falta de investimento no esporte. “Estamos procurando apurar também sobre esses motivos e como vai ficar a situação. Ninguém olha pro automobilismo. Qual empresário você acha que vai pegar seu dinheiro e investir em uma kartódromo de Brasília? As pessoas desse meio, hoje em dia, veem o automobilismo como um grande negócio”, completou.
Túlio Paiva, que é chefe de equipe, trabalhava no kartódromo desde 1990 e comentou sobre a decisão da Administração do Guará. “A GMC, simplesmente, organizava as corridas e realizava as provas de kart em Brasília. Com o cancelamento deste convênio, o governo achou que todo mundo que está dentro do kartódromo é invasor de área pública. Porém, todos esses trabalhadores e pessoas que estavam dentro do kartódromo ocupam essa área há quase 40 anos”, salientou.
Túlio ainda completou: “Tem toda uma história por trás disso aí. Não podemos deixar que sejamos tratados como delinquentes”, afirma.
O presidente da Associação dos pilotos de Kart de Brasília, Dibo Moisés, cobra com veemência as autoridades públicas do Distrito Federal sobre o fechamento da kartódromo do Guará, e divulgou a nota de repúdio (veja no final da matéria) sobre o ocorrido.
O piloto Rodrigo Piquet, que faz parte da Dibo Kart Team e treina no Kartódromo, pediu para que o governador do DF, Ibaneis Rocha, interceda a paralisação das pistas, lembrando de personalidade da capital federal que começaram no local.
O piloto da Fórmula 1 Felipe Nasr, que teve uma carreira vitoriosa no kart, também comentou sobre o assunto. Veja o vídeo abaixo.
NOTA DE REPÚDIO À ATITUDE DA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO GUARÁ
“Sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”. (Albert Camus)
Inicialmente, destaca-se que o Kartódromo do Guará-DF sempre foi o palco de muitas alegrias, rivalidades e adrenalina. O referido cenário foi responsável pelo início de carreira de diversos pilotos, inclusive com participação na tão sonhada Fórmula 1, como por exemplo Nelsinho Piquet e Felipe Nasr.
Além disso, é local frequentado por diversas lendas do automobilismo, tais como: Nelson Piquet, Roberto Pupo Moreno, Vitor Meira, entre outros. Consequentemente, o automobilismo é considerado como cultura e paixão nacional do brasileiro. Contudo, na data de 07/05/2020, para a infelicidade de muitos, a administração regional do Guará-DF enviou uma notificação, por debaixo de cada porta dos boxes, na qual ordenava a desocupação no prazo de 30 (trinta) dias de 51 (cinquenta e um) boxes.
Por conseguinte, em 15/05/2020, descumprindo o próprio prazo concedido, a própria administração regional soldou o portão de acesso ao Kartódromo de forma clandestina, acabando por ferir preceitos constitucionais do livre exercício do trabalho , bem como se apropriando indevidamente dos bens que ali se encontram. A atitude da administração acabou por desrespeitar o princípio do contraditório e ampla defesa constitucionalmente garantidos, visto que já executou a determinação sem que houvesse defesa por parte dos integrantes do Kartódromo.
Além disso, a administração do Guará sequer se deu o trabalho de apresentar os motivos pelos quais não possui a intenção de renovar a concessão, lembrando que a motivação é requisito essencial dos elementos do ato administrativo, sendo certo que a administração somente é concedido o poder de agir dentro dos limites da lei , de acordo com o texto constitucional.
A bem da verdade, não há motivos para não haja uma renovação da concessão da utilização do espaço, pois há cerca de 48 (quarenta e oito) anos este espaço é exclusivamente utilizado para a prática de competições e treinos tanto de kart, quanto de direção defensiva pelo corpo policial.
Nesse sentido, nunca é demais lembrar que a prática das corridas de kart é considerada como esporte e a atitude da Administração Regional do Guará é o mesmo que querer demolir o espaço do Ginásio Nilson Nelson.
O Kartódromo localizado no Autódromo Internacional Nelson Piquet encontra-se fechado, aguarda licitação para a continuação de suas atividades, por óbvio, o único local de Brasília que os praticantes do esporte possam realizar competição é no Kartódromo do Guará.
Em 1987, a UNESCO inscreveu a Capital Federal do Brasil como patrimônio histórico da humanidade, para incentivar a preservação de bens culturais e naturais considerados significativos para a humanidade. Tal atitude tem por objetivo permitir que o legado que recebemos do passado possa ser transmitido às futuras gerações.
Importante ressaltar que a referida administração esquece que são mais de 200 trabalhadores que não mais terão trabalho para sustentar suas famílias, além de pilotos que deixarão de praticar o esporte, tudo isso por uma atitude unilateral, sem qualquer tipo de fundamento é extremamente prejudicial para o automobilismo.
Difícil acreditar que a pista mais antiga de kart de Brasília vai deixar de existir por conta de uma decisão impensada. Igualmente é difícil de acreditar que o Governador do Distrito Federal não tomará uma atitude e deixará que mais de 200 famílias sofram, bem como acabe com um patrimônio histórico e cultural de Brasília, uma vez que o kartódromo do Guará é referência e cartão postal da capital federal.
Não é preciso lembrar que o país encontra-se em estado de pandemia provocada pelo COVID-19, o qual é responsável pelo aumento exorbitante do desemprego. Logo, a atitude desmotivada da administração tem o objetivo de subir ainda mais com a curva do desemprego.
Tarefa difícil acreditar que o Governador eleito com a ajuda da comunidade do Kartódromo venha a agir com a atitude de deixar pais de família desempregados e famílias à beira do desespero, sem saber de onde vão tirar seu próprio sustento e de sua família.
Além do mais, sabe-se que o país encontrará uma recessão na economia e é notório que a prática do automobilismo sempre foi de grande ajuda na movimentação da aquisição de bens e serviços o que, sem sombra de dúvidas, ajudará o Brasil a se reerguer quando o estado de pandemia acabar.
Não se vislumbra qualquer possibilidade de atuação do Governo do Distrito Federal senão o acolhimento da causa mais de 200 famílias que estão com chances reais de ficarem desamparadas pela inércia do Poder Executivo. Encerrar as atividades do Kartódromo é o mesmo que enterrar as chances de vermos novos pilotos, agravar ainda mais a crise do automobilismo e acabar com uma paixão nacional.
Portanto, requer-se que seja revogada a atitude da administração pública, com a total anulação da decisão que determinou o despejo, bem como com a retirada da solda ilicitamente e clandestinamente efetuada, com o fim de se continuar com os trabalhos praticados normalmente neste Kartódromo do Guará.
Gabriel Spies é jornalista formado pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e é comentarista das transmissões de rádio e televisão da Esportes Brasília.