Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Apesar de acusar o presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF), Daniel Vasconcelos, de ser o “maior apoiador” do esquema que rebaixou o Santa Maria no Candangão 2024, o manipulador de jogos William Rogatto, segundo os documentos obtidos com exclusividade pela reportagem da Esportes Brasília, orquestrou uma armadilha ainda mais pessoal: planejou destruir o casamento de Vasconcelos, visando forçar sua saída do comando da entidade máxima do futebol candango. O material mostra com detalhes do plano ardiloso do homem conhecido como “Rei dos Rebaixamentos”.
Em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Senado, Rogatto declarou que Vasconcelos foi o responsável por colocá-lo em contato com a presidente do Santa Maria, Dayana Nunes, com o objetivo de investir no clube. Inicialmente, o “rei dos rebaixamentos” pretendia adquirir a equipe, proposta com a qual Dayana não concordou.
“Quem me colocou para enganar a presidente do Santa Maria foi o próprio presidente da federação. Ele disse: ‘vai ali que é frágil, não tem dinheiro, encosta. O marido infartou ou sei lá, a mulher não entende de futebol e precisa de investidor’. E eu vim a rebaixar o Santa Maria. Ela acabou sendo vulnerável a mim”, afirmou Rogatto.
No entanto, documentos obtidos pela EB, utilizados como base para a Operação Fim do Jogo, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) em março, mostram uma narrativa diferente. Os documentos mostram que o presidente da entidade de futebol do DF sempre foi um obstáculo para os planos de Rogatto, chegando a colaborar as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Esses documentos revelam que Vasconcelos já sabia, em dezembro de 2023, que investidores de São Paulo tinham interesse em investir no Santa Maria para o Candangão 2024, após Dayana ter informado isso diretamente ao presidente da FFDF. Desconfiado, Vasconcelos relatou aos promotores que se posicionou publicamente contra a negociação e orientou a equipe de arbitragem do campeonato a adotar uma postura de colaboração, caso fossem abordados ou tivessem conhecimento de situações que indicassem manipulação de resultados.
A armadilha
As investigações do MP apontam que Rogatto teria tomado conhecimento de uma atitude errada do presidente da FFDF em uma rede social após, supostamente, receber o convite de Vasconcelos para assistir a um vídeo ao vivo. Aproveitando a oportunidade, ele elaborou um plano para armar uma “cilada” e comprometer a reputação de Vasconcelos, com o objetivo de tirá-lo da presidência da Federação.
Segundo as informações obtidas pela EB, uma mulher, conhecida pelo codinome “Debynha”, teria procurado Edmilson Marçal, presidente do Taguatinga Esporte Clube, afirmando que Rogatto havia entrado em contato com ela, oferecendo dinheiro para que seduzisse Vasconcelos e forçasse um envolvimento amoroso e sexual.
“QUE, após o referido episódio de acesso do vídeo de ‘Debynha’ soube que, no próprio dia 21 de janeiro de 2024, uma pessoa a procurou para tentar ‘contratá-la’ para tramar contra o declarante e criar uma situação que pudesse ser vazada como adultério, o que foi comunicado ao declarante por EDMILSON MARÇAL, presidente do Taguatinga Esporte Clube. QUE, conforme EDMILSON lhe explicou, a própria ‘Debynha’ o avisou sobre o fato de um indivíduo ter encaminhado mensagem via WhatsApp com esse propósito, utilizando o número x”, disse o presidente da entidade, à época, ao Ministério Público.
As trocas de mensagens foram obtidas pela reportagem da EB. Nos textos, Rogatto oferece R$ 10 mil para que a jovem se aproximasse de Daniel Vasconcelos, citando uma “diferença (inimizade)” entre ambos, afirmando que o presidente da FFDF “sacaneou muito nossa empresa” e que “não acho justo que ele ache que faz certo”. “Aceita sair com ele e filmar se eu te pagar R$ 10 mil?”, teria dito Rogatto, nas mensagens.
Apesar das mensagens explícitas e da possível falta de veracidade das imagens fornecidas por Vasconcelos ao Ministério Público, os promotores solicitaram à Divisão de Inteligência da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que investigasse um possível vínculo entre Rogatto e o número que trocou mensagens com a acompanhante. Os investigadores constataram que o número estava registrado no nome da mãe de Rogatto.
As informações foram cruciais para que Rogatto fosse um dos alvos da operação deflagrada pelo MP em março. No entanto, os promotores não conseguiram cumprir o mandado de busca e apreensão contra o manipulador de jogos, tendo em vista que ele reside fora do Brasil.
O que dizem os envolvidos
A EB procurou os envolvidos para que pudessem se manifestar. Por meio de nota oficial, a FFDF informou que Daniel Vasconcelos jamais teve contato com o manipulador de jogos. Afirmou ainda que a própria presidente do Santa Maria, Dayana Nunes, revelou que a ponte para as apresentações das partes foi feita pelo seu treinador à época, bem como confirmou que levou o relatório da Sport Radar, empresa responsável por monitorar possíveis casos de manipulação, ao conhecimento do MPDFT e ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), além de depor como colaborador no Gaeco. Daniel também reiterou que apoia as investigações.
A reportagem da EB também procurou o Banco de Brasília (BRB), principal patrocinador das duas últimas edições do Candangão 2024. No entanto, até o fechamento desta reportagem, a estatal não se manifestou. Procuramos Dayana Nunes, presidente do Santa Maria, e Edmilson Marçal, presidente do Taguatinga, de igual modo, sem respostas. A reportagem não localizou a defesa de William Rogatto. O espaço permanece aberto para todas as partes.
