Nó Tático
Quando as coisas estão em ordem, andam
Temos falar do Brasília. Porque agora dá vontade de falar e de ir ao Nilson Nelson, pelos novos-velhos tempos
Escrito 3 meses atrás em
Por Paulo Martins
Sim, senhores. Precisamos falar do Brasília Basquete. A cidade tem uma idiossincrasia distinta das demais metrópoles brasileiras: é essencialmente competitiva no Século XXI. Isso independentemente da modalidade. Casa o fim do calendário do futebol com a temporada regular do Novo Basquete Brasil (NBB), além de (em outros tempos) unir os playoffs com o Candangão como pratos fortes do esporte do Distrito Federal.
O começo da competição é, para o mais hater, promissor. Três derrotas apertadas contra times que irão competir nas fases agudas e quatro boas vitórias: uma dupla em casa e duas maiúsculas dominando o Pinheiros e virando na base da potência do ataque contra o Corinthians. Mais que isso, aproveito dados levantados pelo colega Higor Santos: Brasília é o quarto melhor ataque da liga, o segundo na bola tripla e o quinto em assistências. É assombroso para quem foi lanterna e sem rumo meses atrás.
Certos detalhes extraquadra devem também ser observados e louvados. Sabe-se, nas entrelinhas, que a temporada anterior era de arrumar a casa. Pôr contas em ordem, reorganizar até mesmo as energias. Me deu outro conforto ver o presidente Bernardo Bessa no Ginásio Wlamir Marques, ao lado de Fúlvio, no segundo quarto da transmissão oficial. Passa um ar de “hoje ganhamos”. Isso foi no segundo quarto e a defesa ainda não estava encaixada.
Seja o processo que seja, hoje o time tem conhecimento de quadra. O movimento de voltar com o patrocínio da Caixa faz a diferença, sobretudo quando a mesma nomeia o campeonato. Hoje, é mover o Brasília, time de uma cidade movida pelo basquete. Bernardo esteve onde eu estive, estou e estarei: nas arquibancadas. Tem conhecimento, sobretudo de causa e de casa. E devo algumas desculpas, estas no momento certo, confesso.
A dor da principal instituição esportiva da cidade prejudicou anos e temporadas mortas na quadra e fora dela. Rompeu-se parte de uma torcida que não deveria se perder, e que busca a volta. O Brasília perdeu a onda da grande popularidade do esporte: quem vai dizer que hoje, no Brasil, vôlei é mais popular que o basquete? Ainda mais com o tremendo crescimento do produto da Liga Nacional de Basquete (LNB).
O Brasília encanta, comove, surpreende, emociona. É outro time. Um time que vimos outras vezes. Não importa se agora com um ET do que com um lobo-guará. Importa o nome e a história que levamos. E que faz sonhar com o encanto dos velhos tempos e com as histórias dos novos tempos para se contar depois.
Mesmo velhos nomes se entregam entrando em quadra, com tudo o que passou. Gemadinha sofreu um absurdo com os atrasos salariais na primeira passagem: se a liga acaba hoje, seria escandaloso se ele não for MVP. Gui Santos tenta voltar de uma lesão, similar ao que o complicou na primeira passagem por aqui. E mesmo Daniel Von Haydin, que esteve lá nos tempos de Búfalos, na Liga Ouro, após a saída dos Lobos do NBB, hoje é figura. Sentem e são daqui, tanto quanto nós.
Eu não poderia encerrar a coluna de hoje sem agradecer à figura central dessa trama: o técnico Dedé Barbosa. Ele me disse, pessoalmente, que “não tem um lugar no Brasil com mais potencial para crescer (no basquete) do que aqui”. Parece que o homem para fazer isso é você, André. Você e os seus. Compro sua briga de tentar devolver identidade à capital do basquete. Antes capital do basquete do que do país.
Narrador Esportes Brasília desde 2022; Currículo com duas Supercopas do Brasil e uma Copa do Mundo, além de extensa cobertura do futebol, futsal e basquete da capital federal; Colunista EB no Nó Tático, às segundas-feiras.