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Nó Tático

É tempo de redenção

Dia histórico dos botafoguenses de sempre, a final da Libertadores marca uma valência de vida a quem convive com eles

Escrito em

Dia 30 de novembro de 2024. É parte da história. E entre tantas histórias, tomo a liberdade de contar uma específica. Os Penha são uma família simples e trabalhadora, formada por uma mãe maranhense e um pai capixaba, que se formaram primeiro na Ceilândia, mudando-se para o Recanto das Emas em 1994, nos inícios da então satélite.

Este humilde colunista entra na história da família em 2004, quando um sujeito então franzino (antes de orgulhar-se de treinar) casou-se com minha mãe. O que Tio Igor, para os íntimos da escola onde ele trabalha, me fez, é digno de que eu o chame e considere como pai. Para qualquer dos efeitos, foi a pessoa que mais me ensinou sobre a vida. Ele não gostava de falar sobre futebol, até 2023. Não gosta de mostrar a ninguém quando está menos que bem, apesar de gostar e me incentivar indiretamente a me sentar com a família para ver o time jogar.

Foi ali onde arrumei meu primeiro amigo. O primeiro companheiro de time e adversário na garagem, no asfalto e no sintético 5×5. Meu primo Pedro andava para todos os lados e, com ele, aprendi muitas das coisas que se podem aprender na rua, independente da geração a que alguém pertença. Mesmo vivendo debaixo do teto de um pai e um irmão flamenguista, preferiu pelo preto e branco. Sofreu. Se irritou. Mas abriu o precedente dos netos botafoguenses. Faz sentido que fosse o segundo a quem eu abraçasse após o apito final.

Como todo garoto humilde, meu tio Dennys também tentou jogar futebol. Os relatos que eu ouvi dele jogando nunca foram negativos. Me considero no azar de nunca ter o privilegiado com o pleno vigor da juventude. Ainda que tivesse custado, conseguiu fazer dos filhos, botafoguenses. Certamente, em algum momento dos fracassos, ele perguntou-se: “Como merda faço para meus filhos torcerem pra esse time?” Agora, os próprios são mais que capazes de agradecerem o sangue que levam.

Tudo começa, assim como no primeiro parágrafo, por Seu Rivaldo. Meu avô, botafoguense desde não-sei-quando, ensina todos os dias aos que estão à sua volta, o que me inclui. Por ele, entendi mais que de futebol, da vida. E não precisava o Botafogo jogar, ou nós vermos futebol. Justo com ele, que certamente foi a pessoa com quem mais assisti a partidas ao longo dos meus 22 anos. Há dez, ele descobriu o Mal de Parkinson, e desde então, magicamente, para mim, se fez muito mais sábio do que antes.

A cada derrocada do time, o lamento era o mesmo: “Meu pai não vai mais ver o Botafogo campeão”. Logo ele que ouviu, no rádio, os estrelados Garrincha, Jairzinho, Didi, Nilton Santos e tantos outros. Que viu como Maurício fechava a maldita e longa fila contra o Flamengo, em 89. Que viu a felicidade dos filhos em 1995, com Túlio, contra o Santos, no Pacaembu. Concluiu perfeitamente, sua missão: passou adiante a rica história do Botafogo de Futebol e Regatas.

Confesso que celebrei cada momento da final com aqueles que estiveram toda minha vida do lado. Disse que estava “tudo bem sofrer uma final de Libertadores”. Expresso abertamente que tenho grande simpatia pelo Botafogo, por ser, sobretudo, um dos elos que me une à minha família, que sequer adotiva parece. São os meus, então também é um título meu. Apesar de eu, como palmeirense, disputar títulos contra o Fogão nos últimos dois anos, mais vale o legado eterno que me dão os Penha, todos os dias.

Narrador Esportes Brasília desde 2022; Currículo com duas Supercopas do Brasil e uma Copa do Mundo, além de extensa cobertura do futebol, futsal e basquete da capital federal; Colunista EB no Nó Tático, às segundas-feiras.