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Após a cortina de fumaça, a incerteza do acesso
A fumaça que segue a cobrir a Capital Federal pode ser hostilidade ao pouso da Fênix ou sufocante ao Jacaré
Escrito 2 semanas atrás em
Por Paulo Martins
Dia 25 de agosto de 2024. Histórico em Brasília. A cidade tomada por uma fumaça de incêndios múltiplos no cerrado. Ninguém sabia o que ia acontecer, de onde vinha. Mais parecia um mero vizinho que queimava algo de entulho tirado para fora em um terreno baldio. O que por si é crime. A delegação do Brasiliense, fora da cidade, só pode presenciar isto agora, ao voltar à cidade, sem saber se é lá mesmo bom sinal para o acesso à Série C nacional.
Se será possível respirar nos próximos dias, não se sabe. Quem mais precisa de oxigênio é aquele que sentiu densidade em um começo de jogo de expressão para a tosca e atual realidade do futebol candango. Time de primeiro semestre que é, o Retrô não demorou mais que 45 minutos para mostrar suas limitações. Não mereceu vencer e sequer empatar. Teve ressurreição, mais de uma vez, nas mãos de seu goleiro.
O Brasiliense não se encontra nas cinzas. O 1 x 0 contrário soa até mentiroso. Mais mentiroso do que os insólitos gols sofridos no Serejão, em 15 minutos, que quase condicionavam o ainda mais fraco Real Noroeste. E sim, há quem ainda pense que o futuro do futebol do Distrito Federal se jogue no próximo domingo, de amarelo e branco. Não estou convicto de que será bem assim. Mas dar uma pontada nos demais será interessante e bastante importante.
Já pensou uma provocação ao Gama, sem divisão? Ao Ceilândia, que bateu na trave (mais vale, no travessão), no ano passado? Ao Capital, que tirou sarro nas semifinais e que teria que mostrar valor, literalmente, em 2025? É sacanear para não ser sacaneado, afinal brasileiro ri da própria desgraça. Mas dessa vez é uma injeção por uma nova hibernação ou pelo próprio ânimo, pra não dizer pela vergonha esportiva.
Portanto, para quem quer respirar, passada a fumaça inexplicável da inexplicável Brasília, é preciso ter em campo a mesma resiliência de quem é mesmo daqui. São 90 minutos por quem encara os engarrafamentos, as obras intermináveis, os muitos impostos, as doenças do inverno e sua tradicional secura. Ou nada disso. Um tudo ou nada por jogar uma mera terceira divisão. É escapar para voltar a pensar em ares melhores. Brasília pode respirar, mas pode escolher pela fumaça se quiser.
Narrador Esportes Brasília desde 2022; Currículo com duas Supercopas do Brasil e uma Copa do Mundo, além de extensa cobertura do futebol, futsal e basquete da capital federal; Colunista EB no Nó Tático, às segundas-feiras.