Siga Nossas Redes Sociais

Futebol

Futebol feminino e a quebra de tabus: CBF decide igualar premiações de atletas

Escrito em

Minas Brasília e Real Brasília são os representantes candangos nas séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro Feminino - Foto: Ricardo Botelho/Real Brasília

Por Dyeine Costa, de Goiânia/GO

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou, nesta quarta-feira (02), que as premiações para atletas das seleções masculina e feminina serão iguais. Esse é um dos primeiros casos de equiparação salarial no futebol mundial.

“A CBF fez uma igualdade de valores em relação a prêmios e diárias entre futebol masculino e feminino, ou seja, as jogadoras ganham igual aos homens”, disse o presidente da entidade, Rogério Caboclo, em entrevista coletiva virtual. “Não haverá mais diferença de gênero em relação à remuneração entre homens e mulheres”, acrescentou.

Em virtude dessas medidas, as jogadoras convocadas para a seleção feminina receberão, em cada convocação, os mesmos valores que Neymar e companhia da seleção masculina recebem. A medida vale, inclusive, para as premiações de jogos.

Esporte nunca foi considerado “coisa de mulher”. Vale lembrar que, na origem dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, criado pelos gregos, as mulheres eram excluídas da competição. Quando houve a oficialização da Olimpíada “moderna”, elas foram orientadas a ficar “no lugar delas”. Fato que ainda é bem recorrente. Somente em 1900 as mulheres tiveram a primeira participação em Olimpíadas. Porém, em apenas duas modalidades: tênis e golfe.

No Brasil, chegaram até oficializar na era Vargas, um decreto-lei que proibia as mulheres de praticar esportes incompatíveis com as condições da natureza que viviam, como o futebol, a luta e muitos outros. Esse decreto foi derrubado em 1979.

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, diz o Artigo 54 do Decreto-Lei Federal n° 3.199.

Apenas em 1991 foi organizada a primeira Copa do Mundo feminina. Já em 2012, as mulheres puderam finalmente disputar todas as modalidades olímpicas que os homens disputavam.

A gestora de Futebol Feminino do Goiás, Patrícia Menezes, revelou que iniciou a pratica do esporte assim que o decreto foi derrubado. “Na minha época de infância, era proibido a mulher jogar futebol. O pessoal achava que o esporte poderia afetar o corpo da mulher. No pensamento deles, se em alguma jogada a mulher levasse uma bolada, poderia comprometer o órgão reprodutor”, revela.

Patrícia aponta que as mulheres não querem invadir o espaço masculino e sim conquistar o próprio espaço. “Nós queremos o nosso espaço, a nossa valorização. Isso a gente demonstrou ao longo dos anos. Aqui em Goiás, demorou muito. Só agora estão vendo a gente com outros olhos. A gente precisa que as pessoas acreditem no nosso potencial, que dêem o espaço para provarmos que somos tão boas no futebol quanto os homens são”, desabafa.

A ex lateral do Aliança e atual técnica do futebol feminino do Goiás, Christiane Guimarães, pontuou que o meio do futebol ainda é muito machista. “É um meio muito machista. A mulher tem que provar a todo instante a sua importância, o seu valor, do que ela é capaz. Grande parte das críticas destrutivas vêm de pessoas que não convivem com o futebol feminino, que não vivenciam o futebol feminino”, relata Christiane.

A ex-atleta profissional e professora de iniciação esportiva da prefeitura de Aparecida de Goiânia, Lucélia Costa, acredita que a educação pode mudar o cenário machista no esporte.

“Eu acredito muito que a educação ajuda nesse aspecto. Na escolinha, eu já passo para os meninos esse ensinamento. Aqui, os atletas não tratam as meninas com indiferença. Inclusive, eles treinam juntos a parte do coletivo. Eles respeitam as meninas e, quando é necessário dividir o grupo, os próprios meninos colocam elas na equipe, sem que eu tenha que direcionar”, analisa Lucélia.

P