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Futebol

Exclusivo: Ari de Almeida solta o verbo sobre vários assuntos e fala do Ceilândia: “incógnita”

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Sexta-feira, 17 de janeiro. Por volta das 18h, em frente à uma cafeteria de um shopping em Taguatinga, ele vê o repórter e já exclama: “Tava difícil chegar”? O repórter responde: “É a chuva, sabe como é”. Não pensa duas vezes e já diz: “Vamos começar? Liga o gravador aí”.

Quem disse essas frases é nada mais, nada menos, que Ari de Almeida, presidente do Ceilândia Esporte Clube. O dirigente, que não permitiu a presença da imprensa na apresentação da equipe na última semana, soltou o verbo em uma entrevista exclusiva à Esportes Brasília.

Entre os assuntos pautados estão como o Ceilândia virá para o Candangão 2020, o porquê da demora em fechar a parceria com o Barueri/SP, o contrato que não foi assinado pelo Ceilândia com a TV Brasília, a maneira como a imprensa esportiva tem agido em relação ao gato preto, a possível ausência do Abadião e as possíveis soluções para o futebol de Brasília.

Esta entrevista foi realizada antes do único amistoso realizado pelo Ceilândia antes da estreia no Candangão 2020. O gato preto enfrentou o sub-20 do Brazlândia e venceu por 4×1.

Questionado como será o Ceilândia para o Candangão 2020, o dirigente afirma que será uma incógnita. “A gente vem com um plantel de qualidade, mas estamos falando de uma semana de preparação para o campeonato. O início da tabela é difícil, alguns jogadores estavam treinando e outros pararam em 17 de setembro. No entanto, quero deixar claro que o futebol será tocado pelo Grêmio Barueri. O Ceilândia participa apenas com a parte burocrática”, diz Ari.

Como você leu aqui na Esportes Brasília, o Ceilândia cogitou a possibilidade de não participar do Candangão 2020, por conta de dívidas e de não ter elenco para disputar a competição. A parceria com o time paulista foi fechada há uma semana e o dirigente quis explicar o porquê da demora em anunciar a participação no torneio local.

“Brasília atrai o maior número de picaretas de futebol por metro quadrado. Não estou dizendo que, quem está aqui fazendo futebol seja, mas atrai os picaretas. A gente conviveu com muitas situações que você vinha que não tinha nexo, não tinha fundamento. A minha posição como presidente do Ceilândia era de não disputar”, frisou.

“O que você ganha disputando o campeonato brasiliense? Uma vaga na série D do Brasileiro. A Série D é só mais gasto. Os times daqui não estão preparados. O único que tem estrutura, que é o Brasiliense, ainda vai disputar uma pré-série D. O Gama tem camisa muito forte. Ninguém sabe o que vai acontecer. Para os outros times, é você alongar o sofrimento. Não tenho estrutura, até o ano passado nem série C recebia investimento. Agora, tem cota de tv. Fica atraente você jogar com a perspectiva de subir”, completou.

A tabela do Candangão 2020 começa de maneira ingrata para o gato preto. A sequência inicia com Unaí, Real Brasília, Brasiliense e Gama. “Estou torcendo muito para que o Ceilândia classifique. Hoje [dia da entrevista], estamos fazendo apenas quatro dias de trabalho. Não dá para fazer e avaliar nada. Dizem que o Unaí está treinando há 30, 40 dias. Depois, vamos pegar um Real Brasília que está treinando desde outubro. Depois, o Brasiliense e o Gama. Pode ser que o campeonato, para gente, comece só na quinta rodada”, avalia o dirigente.

Gato sem TV Brasília

A partir de 2020, pelos próximos dois anos, os direitos de transmissão do Candangão ficam a cargo da TV Brasília. Segundo reportagem do Distrito do Esporte, os lucros e dividendos serão repartidos igualmente entre o canal 6.1 e os times. O Brasiliense e o Ceilândia, dirigido por Ari, foram os únicos dois times que não assinaram o contrato com a emissora dos Diários Associados. Ari justifica a não assinatura do documento.

“Quem assiste a TV Brasília? O que ela vai acrescentar ao futebol do Distrito Federal? Reclamavam que a Globo só dava R$ 40 mil. E a TV Brasília, deu o que? Eu assinaria se não tivesse dinheiro, mas se dissessem qual era o intuito, qual era o projeto. ‘Ah, é elevar o futebol de Brasília…’ mas por onde? Pela emissora de menor audiência? Não dá. A Band, que já faz o esporte local, era que deveria ser consultada se faria de graça. Não pretendo assinar no modelo que está. Qual foi o fomento que a Federação fez até agora? O que vamos ter de novo? Sair da Globo e ir para a TV Brasília é novo? Não é. Se não tem nada novo, diz que estamos trabalhando para ter isso”, afirmou Ari.

Ari aproveitou a oportunidade para desabafar sobre a imprensa candanga, onde, na avaliação do dirigente, precisa se reinventar. “Alguns repórteres ainda tiveram a capacidade de dizer que somos um câncer no futebol. Que câncer é esse, que faz seis finais nos últimos dez anos?”, indaga.

Questionamos o fato de Ari ter fechado o Centro de Treinamento do clube, a “Cidade do Gato”, para a presença da imprensa na apresentação do Ceilândia na última semana. O dirigente tentou justificar que a crônica esportiva candanga não tem a capacidade de analisar – na visão dele – a maneira correta de como o time está se preparando.

“Eu tenho problemas pontuais com a imprensa. Se eu levo a imprensa do Distrito Federal para a apresentação do time no CT, alguns diriam que o time não prestava. Tem alguns que querem só cornetar, não querem colaborar. Eles [jornalistas] acham que isso dará audiência pra eles. Será que a nossa imprensa não vê que esse modelo está errado? Que tem que se reinventar? É muito fácil pegar um microfone e falar um monte de asneiras. Mas quero deixar claro que tem gente séria também. Eu tenho que blindar meu time mesmo. O Ceilândia tem peças boas, o treinador é bom, o gestor é sério, sabe o que quer do futebol”, ressalta.

É muito fácil pegar um microfone e falar um monte de asneiras. Mas quero deixar claro que tem gente séria também.

Ari ainda acusa a imprensa candanga de ser clubista. “Quantos repórteres aqui torcem para o Gama? Muitos. Aí tem seriedade nisso? Nos grandes eixos, como Rio/São Paulo, você pode ter camisa. Já aqui, estamos em um processo de construção. Ou todos os gestores começam a tratar o futebol com seriedade ou vai piorar cada vez mais. E o modelo que está não vai fazer com que se reinvente”, desabafa o dirigente.

Abadião fora?

A sede oficial do Ceilândia é o estádio Abadião, na região central da cidade. Contudo, o palco do gato preto, ainda não está autorizado a receber as partidas, uma vez que não existem laudos atualizados.

Vale lembrar que o local foi totalmente reformado, uma vez que o Abadião foi centro de treinamento dos times na Copa do Mundo da FIFA Sub-17, realizada no último mês de outubro.

“Está indefinido [onde vou mandar os jogos]. Eu não sei se o Abadião vai ter laudo. A possibilidade de eu mandar os jogos fora de Brasília é enorme. E ninguém vai poder dizer que não vai, pois vai ter jogo em Unaí/MG. O Unaí voltou ao Candangão sem consultar ninguém, do mesmo jeito que eu posso ir para Paracatu. Porque não? Até ontem, Paracatu era uma praça. Porque não posso mandar os jogos lá? O Abadião está sem laudo. Eu acho que não tira a tempo da segunda rodada”, afirma o presidente do Ceilândia.

Ari entende que ainda falta uma política para os estádios. “Onde a Federação já foi negociar a vinda de jogos para cá? É muito fácil esperar os times anunciarem. Não, a Federação tem que fomentar também. Ela também é responsável pelo elefante branco e pelos estádios precários que diz que tem. O representante dela, numa reunião na Administração de Ceilândia, disse que os estádios são muito precários. Mas, ela também é responsável. Ou você acha que o papel dela é jogar as bolinhas e sortear tabela? Ela é a maior gestora”, questiona.

Melhorias para o futebol de Brasília

Ari garantiu, durante a entrevista à EB, que tem tentado propor para a Federação um debate visando melhorar o futebol da cidade. “Um dos motivos é que falta articulação e projetos para o futebol de Brasília. O que ela pensou? Tenho que reconhecer. O presidente está sanando muitas dívidas da Federação, consegue se comunicar com todos os clubes, mas tem que pensar no futebol local. Tivemos o Ceilandense que quase não se resolve, outros times como Luziânia, Sobradinho, Paranoá. Quase que cinco não conseguiram se estruturar. Está claro que o Candangão tem que ser feito com oito clubes. Sai mais barato, é mais atrativo. Fizemos em 2010 assim e é só ver como foi. Os jogos de mata-mata todos foram com casa cheia. Como reinventar? Primeiro, mudando o regulamento. Pra que 12 clubes? Dos 12, quatro não demonstraram como montar times”, conta.

O dirigente também avaliou que o Candangão 2020 será um dos piores a serem disputados. “O nosso futebol nesse ano será do menor nível. Vai ser pior do que no ano passado. Em 2019, o Ceilândia estava com um time razoável, bateu na trave dos dois lados, tivemos a grata surpresa do Real fazer uma semifinal, o Paracatu chegar na semifinal. Foram gratas surpresas. Qual a chance de dar uma zebra esse ano? Zero. Brasiliense e Gama tem de tudo para fazer a final e o Real ser a terceira força de estrutura. Não podemos esquecer que, a nível de CBF, o Brasiliense é o primeiro do Distrito Federal e o Ceilandia é o segundo”, ressalta.

“Não concordo com avaliação antecipada”

A Federação de Futebol do Distrito Federal teve a chapa encabeçada por Daniel Vasconcelos reeleita para comandar a entidade máxima do futebol candango. No entanto, o presidente do Ceilândia ressalta que não concordou com a antecipação da eleição para o mês de dezembro de 2019, sendo que a “nova” gestão de Daniel se inicia somente em outubro deste ano.

“O Ceilândia não era opositor [à FFDF]. O Ceilândia só não foi convidado para a discussão. Ou seja, todo mundo ia comer a cereja e eu ia ficar com o glacê. A chapa única que teve, fez certo. Se o estatuto permitir que faça eleição, que faça. Parabéns. Agora, onde já se viu, faltando um ano, avaliar a gestão? E se fizer m* esse ano, o campeonato for uma b*? Já está feito, já está eleito. Avaliaram que foi ótimo. [A FFDF] errou nesse processo”, reclama.

“O Daniel [Vasconcelos, presidente da FFDF] poderia ter sido reeleito presidente que teria meu apoio, mas num processo de diálogo, esperando chegar o momento certo. Ainda tem uma temporada de futebol pela frente e já foi avaliado que foi excepcional, sendo que o Daniel reeleito quase que por unanimidade. Não era a hora. Eu não participei de nenhuma avaliação. As pessoas têm que parar de ter medo. A oposição faz bem a qualquer processo. O Ceilândia, nem eu, somos oposição, mas o Ceilândia não é obrigado a concordar com tudo. Mas estou aberto ao diálogo”, finalizou a entrevista.

O Ceilândia estreia no Candangão 2020 diante do Unaí Esporte no próximo domingo (26), às 15h30, no estádio Urbano Adjuto, em Unaí/MG.

Rener Lopes é jornalista formado pela UCB. Atua na mídia esportiva desde 2006, com passagens por sete rádios, como narrador, apresentador e setorista. Tem no currículo três olimpíadas (Atenas 2004, Londres 2012 e Rio 2016), três Copas do Mundo (Brasil 2014, Rússia 2018 e Qatar 2022) e duas Copas América (Brasil 2019 e 2021).

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