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Futebol

Empresários são presos acusados de fraudar impostos em partidas realizadas no DF

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Em entrevista coletiva na manhã deste domingo (26), na sede do Departamento de Polícia Especializada, a operação que culminou na prisão do ex-atleta Roni, do presidente da Federação de Futebol do Distrito Federal, Daniel Vasconcelos, e de outros empresários, foi divulgado pela Polícia Civil do Distrito Federal.

A investigação começou em 2017, após o recebimento de queixa-crime por parte do Ministério Público do Distrito Federal. Foram expedidos 19 mandados de busca e apreensão, sendo seis no Distrito Federal, dois em Luziânia/GO e 11 em Goiânia/GO. Sete pedidos de prisão temporária foram emitidos, sendo que seis foram cumpridos no próprio Estádio Nacional e um em uma residência, em Samambaia. No entanto, os nomes não foram revelados pela Polícia para não prejudicar as investigações.

No estádio Nacional Mané Garrincha, foram apreendidos ingressos impressos, computadores, HDs e outros equipamentos. Já na casa do presidente da Federação de Futebol do DF, Daniel Vasconcelos, em Luziânia, foi apreendida uma arma calibre 38, que – segundo a Polícia – não era registrada. Por isso, ele foi detido em flagrante e teve a fiança estipulada em R$ 10 mil, já paga. Mesmo assim, Daniel terá que aguardar o fim da prisão preventiva pela operação para responder em liberdade.

Empresários e o presidente da Federação de Futebol do DF, Daniel Vasconcelos, foram presos durante o jogo entre Botafogo e Palmeiras, no estádio Nacional Mané Garrincha – Foto: Cesar Grecco/Palmeiras

Outra atuação da operação aconteceu em Goiânia/GO, onde em uma das empresas investigadas, foram apreendidos R$ 100 mil em espécie, além de computadores e documentos.

Segundo o coordenador especial de Combate à Corrupção, Crime Organizado, Contra a Administração Pública e aos Crimes Contra a Ordem Tributária, Leonardo de Castro, o grupo era especializado em fraudar impostos. O erário público era prejudicado de duas maneiras: os impostos nacionais, como imposto de renda e INSS, não eram recolhidos de forma correta pois os valores da partida eram divulgados abaixo do normal. Já em âmbito local, o ISS e a taxa de aluguel do estádio não eram pagos efetivamente como deveriam ser, uma vez que o valor é alocado conforme a presença de público.

“Funcionários de outras federações nos contaram que notavam essa diferença de público presente nos estádios, com o numero declarado nos borderôs. Um exemplo disso aconteceu no dia 07 de fevereiro, no jogo Ferroviário/CE x Corinthians, em Londrina/PR. Na transmissão, o narrador comentou que, quando saiu o público divulgado, era impossível acreditar no que foi divulgado, pois o estádio estava lotado e o número divulgado era 1/3 do estádio”, disse Leonardo.

Jogo entre Ferroviário/CE e Corinthians, pela Copa do Brasil, acabou empatado em 2×2, no Estádio do Café, em Londrina/PR. Empresário que comprou o jogo está sob investigação – Foto: Reprodução

O borderô do jogo em Londrina/PR, divulgado pela CBF e preenchido à mão pela Federação Paranaense de Futebol, aponta que 19.316 pessoas pagaram ingresso para acompanhar o empate em 2×2. Do valor arrecadado (R$ 897,3 mil), a FPF ficou com R$ 44,8 mil.

A reportagem da Esportes Brasília procurou no site da CBF o borderô do jogo deste sábado (25), entre Botafogo e Palmeiras, mas até o fechamento desta matéria, o documento não havia sido divulgado.

Tudo no silêncio total

Segundo Ricardo Fernandes Gurgel, diretor da Divisão de Repressão Aos Crimes Contra a Ordem Tributária, a ação foi bem-sucedida pois foi feita no mais absoluto silêncio. “Foram mobilizados 50 policiais no estádio, e a intenção era, não só a prisão todos envolvidos, bem como os materiais, mas que a operação acontecesse sem que ninguém que tivesse ido para assistir ao jogo notasse a atuação da polícia”, explicou.

Todos os investigados são empresários. Um deles promoveu vários jogos, sendo que dois envolveram o Vasco: um contra o Fluminense, pelo Campeonato Carioca, em Brasília, e outro contra o Serra/ES, pela Copa do Brasil, em Cariacica/ES.

No jogo realizado na capital federal, de acordo com o borderô divulgado pela FFERJ, foram 15.864 pagantes para uma renda de mais de R$ 882,4 mil. Só a Federação de Futebol do DF recebeu R$ 38,6 mil e teve R$ 17,6 mil recolhidos em impostos.

“Estamos investigando partidas desde 2015. Cerca de vinte jogos que aconteceram em Brasília estão sob análise. Jogos em outros estados também serão investigados, mas também as federações, como a de Brasília, por exemplo, que também podem ter sido vítimas. Estamos investigando tudo isso”, afirmou o delegado Ricardo Gurgel.

Delegado Ricardo Gurgel, da Polícia Civil, informou que mais federações serão investigadas e que elas podem ter sido, até mesmo, vítimas do grupo – Foto: Rener Lopes/Agência EB

O valor desviado dessas partidas ainda não foi apurado pela Polícia Civil. Os detidos, que estão recolhidos preventivamente na carceragem do Departamento de Polícia Especializada, podem ser indiciados pelos crimes de associação criminosa – mas que pode ser convertido para organização criminosa -, estelionato majorado, falsidade ideológica e sonegação fiscal. Contudo, o indício de lavagem de dinheiro também pode ser investigado.

A reportagem da EB procurou a Federação de Futebol do Distrito Federal para que se manifestasse a respeito da operação, mas a entidade preferiu não comentar o caso até o fim das investigações.

Rener Lopes é jornalista formado pela UCB. Atua na mídia esportiva desde 2006, com passagens por sete rádios, como narrador, apresentador e setorista. Tem no currículo três olimpíadas (Atenas 2004, Londres 2012 e Rio 2016), três Copas do Mundo (Brasil 2014, Rússia 2018 e Qatar 2022) e duas Copas América (Brasil 2019 e 2021).

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